Se casamento fosse bom, não precisava testemunha, pra que padre, pra que juíz, se o que faz a gente ser feliz é amar, amar, amar... Amor não faz mal a ninguém."
Cantarolo ai, mal e abestalhadamente, alguns versos de um antigo forró do genial Trio Nordestino, para entrar de sola, como se diz no futebol, em um tema que incomoda feito pulga ou carrapato em orelha de cãozinho de madame: a exploração da indústria do casamento.
Nada contra o enlace dos pombinhos, é lindo, é sonho, só deixo aqui, à guisa de puxão de orelha e beliscão pedagógico, um alerta, diante de uma prima macabéica que vai gastar o que tem e o que não tem em um casório. Se liga, princesinha do Crato.
Como ia dizendo, nada contra o enlacea dos pombinhos, aquele vestido branco, o atraso da noiva, as piadas dos amigos com o noivo, o cunhado bêbado bolindo com as moças, bouquet para o alto, as coroas aos tapas, as coroas com a humanissima inveja que rói as vestes qual o rato roía as roupas do rei de Roma, as coroas em fuga dos seus caritós, as coroas à beira de um ataque de nervos como as Carmens Mauras...
Ai vai todo mundo para casa... Fim de festa, aquela bangunça, uns parentes intrigados por passar na cara uns dos outros “umas verdades” encobertas que careciam de umas canjibrinas, umas doses a mais etc.
Fim de festa e o o noivo e a noiva, meu Deus, nem podem ir para um hotelzinho barato lá em Poços de Caldas, um chalezinho em São José da Coroa Grande, Guaramiranga, Ubajara... Sim, passa a régua, estão entregues, na bacia das almas, às prestações, às dívidas, ao crediário. Pense em uma ressaca cheia de cálculos.
Foram fazer bonito para os convidados, parentes e amigos e agora, no noves fora zero da tabuada, o saldo é vermelhíssimo. Pior, amigo noivo, é que ainda sairam falando. Não gostaram dos salgados, como lhe contou aquela prima ranzinza e seca de tão ruim, só o couro, o cabelão de crente e os ossos.
Deixa pra lá, amigo, o importante é que foi bonita a festa, pá, e não tem mais jeito. Não poderia deixar uma data nobre passar em branco, celebrare, celebrare, celebrare. Não está mais aqui o cronista cri-cri para lhe ampliar a ressaca.
O problema, distinto noiva e respeitável noiva, é que ninguém casa mais de um jeito simples. Todo mundo cai no conto do bufê, dos salgadinhos padronizados e sem gosto, da filmadora, do álbum nada familiar, dos carrões, das carruagens, da transmissão pela internet (a nova modinha é essa) e de outros tantos pacotes completos.
Outro dia, aqui em SP, vi uma tal de Expo Noiva, feira milionária que mostra o que se transformou uma cerimônia. Os números que saem de lá assustam qualquer barão. Estima-se que os pombinhos torram pelo menos R$ 8 bilhões por ano nos seus enlaces no Brasi.
Não quero provocar a ira santa dos bispos e pastores e recomendar que se ajuntem, se amancebem, se amiguem, grudem as costelas e sejam felizes até o eterno enquanto dure. Só não precisa é cair no conto do vigário das cerimônias caríssimas, ainda mais agora depois do casório real que influenciará um bocado de gente besta.
Amigo noivo, engorde umas galinhas, uns capões, um porco, um cabrito e estamos conversados. Acordar devendo em plena lua de mel é a pior das traições, é como ser corno de si mesmo. Amém e até a próxima.
Por Xicó Sá
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