sexta-feira, 6 de maio de 2011

Cobaias humanas

Há dois anos o carioca Marcos Luís Oliveira da Costa, 33, cumpre uma rotina quase militar. Toma um comprimido a cada manhã, faz exames de sangue, urina e teste para o vírus HIV a cada mês — quando também vai ao médico — e, em todos os trimestres, preenche longos questionários sobre comportamentos de risco. Marcos não está tratando uma doença. Ele é uma cobaia humana. 
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Como outros 349 voluntários brasileiros, o professor de história e geografia não ganha nada para testar se o Truvada, medicamento contra a infecção pelo vírus HIV, funciona bem ou provoca danos ao organismo. Ao todo, são 2.499 pessoas de seis países (Brasil, EUA, África do Sul, Tailândia, Peru e Equador) participando dessa pesquisa. O que Marcos, soronegativo, ganha com isso? Esperança de não ver mais gente passar pelo que quatro amigos passam na luta contra a Aids. “Se esse medicamento existisse há alguns anos, talvez eles não tivessem contraído o HIV. Farei o que eu puder para ajudar a prevenir essa doença”, afirma. 

Como Marcos, existem 40 mil cobaias humanas no Brasil — ou, como preferem os especialistas, sujeitos de pesquisa. De aparelhos a remédios, de cosméticos a alimentos, nada é aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sem, antes, passar por eles. “Sem voluntário, não há pesquisa clínica. Ele é tão importante quanto o pesquisador”, afirma o infectologista Mauro Schechter, chefe do Laboratório de Pesquisas em Aids do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, no Rio de Janeiro, ele próprio um ex-voluntário que, nos anos 80, participou de um teste nos Estados Unidos para a criação de uma vacina contra a hepatite B. 

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