domingo, 8 de maio de 2011

MÃE É A QUE METE MEDO

Todo mundo tem uma experiência qualquer sobre mãe, exceto quem nunca teve uma pra chamar de sua. Minha primeira e mais presente lembrança é a de que minha mãe me metia medo. Tudo o que eu fazia na rua, no rio ou na escola era pensando no que ela ia me diz...er ao chegar em casa. Talvez ela tivesse uma noção exagerada do que deveria ser boas maneiras, essas coisas que todo mundo pensa necesárias a uma boa educação. Preocupava-se com o modo de assoar o nariz, a melhor maneira de escovar os dentes, como cumprimentar os vizinhos, os colegas, os professores, nada lhe escapava nas lides domésticas, nem mesmo a forma de segurar os talheres e falar à mesa, repreendendo quando alguém falava com a boca cheia. A bronca viria na certa se não fizesse a lição de casa, se cuspisse no chão, se usasse vocabulário inadequado ou criticasse a vizinha que mostrava levemente os seios. Minha mãe era professora primária. Logo, o que a escola não ensinasse, lá estava ela pronta para repreender. Cuidou de oito filhos, isso porque dois não vingaram. A melhor definição é a do poeta Coelho Neto: "ser mãe é padecer num paraíso". Ela sofre antes e depois do parto. Sofre com o receio de que o filho nasça com alguma doença, por não saber o que vai acontecer com ele ao longo da vida, com a mais remota possibilidade de que ele venha a sofrer - dor, preconceito, humilhação, fome, qualquer sofrimento. Por alguma razão ela não se lembra de si mesma. Se perguntarmos o que é ser boa mãe, nenhum psicólogo vai dizer é a que mete medo. A educação moderna passa por mistérios que Paulo Freire tentou explicar e Içami Tiba transformou em best seller. Gosto muito mais do que diz Rubem Alves com sua tese de que ostra feliz não faz pérolas. No tempo em que se dava a mão à palmatória não cheguei a provar as suas dores. Resta a impressão de que a figura materna funcionou como o freio ABS de eventuais descaminhos. O que vale dizer, concluir ou supor, com perdão dos educadores, que mãe de verdade é a que mete medo.
Por: Flávio Tiné

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