Assistindo ao conflito entre médicos e planos de saúde, não posso deixar de me indignar com a idéia de que somos meros consumidores; como se vida fosse parte de um jogo de interesses financeiros.
Pra mim, a relação médico-paciente vai muito além de protocolos de credenciamento.
Se o paciente encontra no profissional de saúde, alguém a quem se entrega suas mais íntimas aflições, a continuidade desta relação não pode depender de decisões tomadas em assembleias ou mesas de negociação.
Confiança não tem preço, nem prazo de vencimento.
Um paciente crônico não pode ser submetido a frequentes trocas de médicos. Não é assim que se trata doenças, nem doentes.
Onde está o Ministério Público que não se posiciona de forma decisiva ante estes Planos que exploram usuários e a classe médica ?
Os médicos sempre foram vistos como algo de especial; esperamos deles um comportamento de padrão superior ao de outros profissionais liberais.
Existe um motivo para que assistamos a séries de TV sobre médicos heróicos e não queremos que a insatisfação de alguns, manche a enorme admiração que sentimos pela classe.
A ideia de que tudo isso possa ser reduzido a dinheiro - de que os médicos são apenas "fornecedores" vendendo serviços aos "consumidores", pode realmente nos deixar enfermos.
O fato de que esse tipo de linguagem se tenha tornado dominante é um sinal de que existe algo de muito errado não apenas nessa discussão mas sim nos valores de nossa sociedade.
Por Fabíola Tiné
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