segunda-feira, 4 de abril de 2011

Amélia moderninha

Amélia era uma pequena empresária que acabara de se formar em Administração de Empresas. Tentava engrenar uma oficina autorizada de eletro-eletrônicos.
Estava feliz a nossa Amélia, não fosse a imensa frustração por não ter casado e não ser mãe.
Buscando amenizar parte deste sofrimento, Amélia adotou João.
Não era lá muito bonita, sobrepeso considerável, óculos com lentes muito fortes, cabelos mal com Deus.
Mas, como já dizia minha avó – “Não falta chinelo velho pra pé doente”.
Certo dia, quando saía de casa para o trabalho, foi atropelada por uma antena. Sim, uma antena.
Conduzida por Roberval, a antena iria ser instalada no prédio de Amélia. Era de uma TV a cabo que sua vizinha acabara de adquirir,  na esperança de que seus filhos ficassem mais calmos e não recebessem tantas reclamações do síndico; afinal, já foram dois vidros de carros e algumas senhoras, atingidas por bolas nesse mês.
Voltando ao atropelamento, Amélia estava possessa, tinha se produzido além do normal naquele dia. Batom, perfume, roupa nova. Tudo podia acontecer; um cliente solteirão...
Mas, naquela manhã seu partido foi mesmo uma antena.
Roberval desculpou-se de todas as maneiras, mas Amélia estava irredutível na idéia de prestar uma queixa na empresa em que Roberval trabalhava.
E não deu outra, o pobre foi demitido. Dias depois, Amélia colocou um anúncio no jornal buscando um profissional que instalasse antenas. Não deu outra, lá estava o Roberval que depois de muita conversa, acabou ficando com a vaga.
Dias se passaram e Amélia começou a se interessar mais e mais por Roberval. Com a desculpa de que tinha que acompanhar de perto a atuação do empregado infrator, ela levava o maior papo com ele no final do expediente.
Até que um dia, descobriram que estes papos poderiam ser na casa dela, depois na cama dela, o resto da prestação de contas, você pode imaginar.
Uma noite Roberval chegou em casa choroso. Vinha da visita que fazia aos filhos de uma relação que havia minguado.
Indagado por Amélia, ele revelou que os filhos estavam passando toda sorte de privação. Faltava comida, roupas, remédios.
Amélia não hesitou em mandar que ele fosse buscá-los. Seu espírito maternal era maior que o seu juízo.
Roberval não pensou duas vezes. Estaria livre da pensão alimentícia.
E, antes que Amélia desistisse trouxe os rebentos. Catarina e Júnior tinham agora uma nova mãe e um novo irmão. Não precisariam mais chorar por leite. Nunca tinham visto tanta comida; uma casa com tantas luzes, andado de elevador. Era o paraíso.
Amélia foi escolhida ainda, para receber dentro de uma caixa em sua porta, um bebê que passou a se chamar Pedrinho.
Era uma trabalheira danada, em pouco tempo Amélia precisou contratar uma babá.
Moça faceira, Joana encantou Roberval.
À noite, quando todos se recolhiam Roberval visitava o quarto da moça.
Deu-se a desgraça!
Certa noite, sentindo falta do marido, Amélia levantou-se e descobriu os dois, dormindo agarradinhos na cama estreita do quartinho da área de serviço.
Foi um bafafá daqueles...
Roberval saiu catando as roupas escada abaixo junto com Joana.
A empresa faliu, graças aos vales que o malandro fazia no caixa.
Roberval está desempregado, morando com Joana que espera um filho dele.
Amélia que é mulher de verdade, se mudou para o Interior, levando as quatro crianças. Está tentando recomeçar.

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